Ana Paula Ricardo da Silva
2 min readMay 27, 2021

Reflexões acerca do “Amor”

A colonização — que perdura até os dias de hoje — deixou e têm deixado feridas e carências significativas em nós, pessoas pretas, que são passadas de geração em geração e se perpetuam, como se este estado adoecido em que nosso povo se encontra fosse um estado natural, inerente ao ser humano, mais especificamente ao seu humano preto.

Carregamos o sofrimento como algo comum, habitual e ordinário, que irá nos acompanhar ao longo da vida, não como algo passageiro mas sim permanente!

Estarmos mais próximos da dor que do amor não é surpreendente, afinal, a escravização, operada pela branquitude, introjetou em nós este imaginário, de um povo fadado ao sofrimento, descendentes de escravos, que sempre dependerá de um branco salvador para apresentar a ele modos de vida e produção adequados.

Ocorre que, tais modos de vida e produção são pautados na lógica de contratualidades
raciais das quais o negro é excluído, em que o consumo excessivo gera a escassez da natureza, subdividido em classes e que têm a cis-heteronormatividade como regra.

E nesse estado de caos em que nos encontramos, de desgraça, onde surge o amor?

Em nossas tentativas de amar encontramos diversos desafios no caminho, devido ao adoecimento mental causado por todo este cenário e também pela falsa crença de que não temos tempo para amar, nos acolher e nos cuidar.

O amor surge ou deveria surgir, justamente como a rota mais simples para seguir diante deste contexto, como prática de aquilombamento, dengo e libertação.

É preciso estar emocionalmente saudável e acolhido para seguir resistindo e lutando, tudo é mais fácil com um irmão, tudo é possível em comunidade!

Precisamos entender que temos sim tempo para amar, que o amor é inclusive fundamental, se você não está fazendo por AMOR AO SEU POVO, pelo quê está?

E aqui com certeza não falo do amor romântico/ocidental/branco, que te prende, te suga, te cobra, promete o que não pode dar e tenta preencher buracos; falo do dengo, do acolhimento, do choro, do canto, da roda, da partilha em comunidade, da responsabilidade, do sangue, luta, da colheita!

Ana Paula Ricardo da Silva

Mulher preta vivendo em diáspora; Advogada; Graduanda em Ciências do Estado pela UFMG; Pós-graduanda em Direito do Trabalho e Previdenciário.