Reflexões acerca do “Amor”
A colonização — que perdura até os dias de hoje — deixou e têm deixado feridas e carências significativas em nós, pessoas pretas, que são passadas de geração em geração e se perpetuam, como se este estado adoecido em que nosso povo se encontra fosse um estado natural, inerente ao ser humano, mais especificamente ao seu humano preto.
Carregamos o sofrimento como algo comum, habitual e ordinário, que irá nos acompanhar ao longo da vida, não como algo passageiro mas sim permanente!
Estarmos mais próximos da dor que do amor não é surpreendente, afinal, a escravização, operada pela branquitude, introjetou em nós este imaginário, de um povo fadado ao sofrimento, descendentes de escravos, que sempre dependerá de um branco salvador para apresentar a ele modos de vida e produção adequados.
Ocorre que, tais modos de vida e produção são pautados na lógica de contratualidades
raciais das quais o negro é excluído, em que o consumo excessivo gera a escassez da natureza, subdividido em classes e que têm a cis-heteronormatividade como regra.
E nesse estado de caos em que nos encontramos, de desgraça, onde surge o amor?
Em nossas tentativas de amar encontramos diversos desafios no caminho, devido ao adoecimento mental causado por todo este cenário e também pela falsa crença de que não temos tempo para amar, nos acolher e nos cuidar.
O amor surge ou deveria surgir, justamente como a rota mais simples para seguir diante deste contexto, como prática de aquilombamento, dengo e libertação.
É preciso estar emocionalmente saudável e acolhido para seguir resistindo e lutando, tudo é mais fácil com um irmão, tudo é possível em comunidade!
Precisamos entender que temos sim tempo para amar, que o amor é inclusive fundamental, se você não está fazendo por AMOR AO SEU POVO, pelo quê está?
E aqui com certeza não falo do amor romântico/ocidental/branco, que te prende, te suga, te cobra, promete o que não pode dar e tenta preencher buracos; falo do dengo, do acolhimento, do choro, do canto, da roda, da partilha em comunidade, da responsabilidade, do sangue, luta, da colheita!